Por acaso você já teve curiosidade
de saber quem era aquele DEUS DESCONHECIDO que o apóstolo Paulo mencionou em
Atos 17:23, durante o discurso que ele proferiu no Areópago de Atenas?
E passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram a
Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus.
E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles;
e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras,
Expondo e demonstrando que convinha que o Cristo
padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio,
dizia ele, é o Cristo.
E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e
Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres
principais.
Mas os judeus desobedientes, movidos de inveja,
tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo,
alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para
junto do povo.
E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos
à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o
mundo, chegaram também aqui;
Os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem
contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus.
E alvoroçaram a multidão e os principais da
cidade, que ouviram estas coisas.
Tendo, porém, recebido satisfação de Jasom e dos
demais, os soltaram.
E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a
Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam
em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia
nas Escrituras se estas coisas eram assim.
De sorte que creram muitos deles, e também
mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens.
Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam
que a palavra de Deus também era anunciada por Paulo em Beréia, foram lá, e
excitaram as multidões.
No mesmo instante os irmãos mandaram a Paulo que
fosse até ao mar, mas Silas e Timóteo ficaram ali.
E os que acompanhavam Paulo o levaram até Atenas,
e, recebendo ordem para que Silas e Timóteo fossem ter com ele o mais depressa
possível, partiram.
E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu
espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria.
De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e
religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam.
E alguns dos filósofos epicureus e estóicos
contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros:
Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a
ressurreição.
E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo:
Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?
Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos;
queremos, pois, saber o que vem a ser isto
(Pois todos os atenienses e estrangeiros
residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma
novidade).
E, estando Paulo no meio do Areópago, disse:
Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos;
Porque, passando eu e vendo os vossos santuários,
achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois,
que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.
O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo
Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como
que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a
respiração, e todas as coisas;
E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para
habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados,
e os limites da sua habitação;
Para que buscassem ao Senhor, se porventura,
tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos;
como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.
Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de
cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra
esculpida por artifício e imaginação dos homens.
Mas Deus, não tendo em conta os tempos da
ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se
arrependam;
Porquanto tem determinado um dia em que com
justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu
certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos,
uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.
E assim Paulo saiu do meio deles.
Todavia, chegando alguns homens a ele, creram;
entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com
eles outros.
Atos 17:1-34
Você acha que Paulo disse que o
DEUS DESCONHECIDO era o Deus que ele anunciava apenas porque aquele era um
“deus” sem nome?
Eu lhe convido a visitar a Grécia
antiga com Don Richardson, escritor do livro O Fator Melquisedeque, e conhecer a história de Epimênedes, profeta do DEUS
DESCONHECIDO.
Os atenienses
Em alguma época,
durante o sexto século antes de Cristo, numa reunião do Conselho na Colina de
Marte, em Atenas...
“Diga-nos, Nícias,
que aviso o oráculo de Pítias lhe deu? Por que esta praga caiu sobre nós? E por
que os inúmeros sacrifícios realizados de nada adiantaram?”
O impassível Nícias
olhou de frente o presidente do conselho e afirmou:
“A sacerdotisa
declara que nossa cidade se encontra sob uma terrível maldição. Um certo deus a
colocou sobre nós por causa do medonho crime de traição do rei Megacles contra
os seguidores de Cylon.”
“É verdade!
Lembro-me agora”, disse sombriamente outro membro do conselho. “Megacles obteve
a rendição dos seguidores de Cylon com uma promessa de anistia, depois violou
prontamente sua própria palavra e os matou! Mas qual é o deus que ainda nos
condena por esse crime? Já oferecemos sacrifícios de expiação a todos os
deuses!”
“Não é bem assim”,
replicou Nícias. “A sacerdotisa afirma que resta ainda um deus a ser
apaziguado.”
“Quem poderia ser?”
perguntaram os anciãos, olhando incrédulos para Nícias.
“Não posso
contar-lhes”, respondeu ele. “O próprio oráculo parece não saber o seu nome.
Ela disse apenas que...”
Nícias fez uma
pausa, observando as faces ansiosas de seus colegas. Enquanto isso, da cidade
enlutada à volta deles, ouvia-se o eco de milhares de cânticos fúnebres.
Nícias continuou:
“... precisamos enviar um navio imediatamente a Cnossos, na Ilha de Creta, e
trazer de lá para Atenas um homem chamado Epimênides. A sacerdotisa
assegurou-me que ele saberá como apaziguar esse deus ofendido, livrando
assim a nossa cidade.”
“Não existe alguém
suficientemente sábio aqui em Atenas?” esbravejou um ancião indignado. “Temos
de apelar para um... um estrangeiro?”
“Se conhece algum
grande sábio em Atenas, pode chamá-lo”, disse Nícias. “Caso contrário,
cumpramos simplesmente as ordens do oráculo.”
Um vento frio, frio
como se tocado pelos dedos gélidos do terror que varria Atenas, fez-se presente
na câmara de mármore branco do conselho na Colina de Marte. Aconchegando-se
mais em seu manto de magistrado, cada ancião refletiu sobre as palavras de
Nícias.
“Vá em nosso nome,
meu amigo”, disse o presidente do conselho. “Traga esse Epimênides! Se ele
atender ao seu pedido e livrar nossa cidade, nós o recompensaremos.”
Os demais membros
do conselho concordaram. O calmo Nícias, de voz suave, levantou-se,
inclinando-se diante da assembléia, deixando a câmara. Ao descer a Colina de
Marte, ele se encaminhou para o porto de Pireu, que ficava a 13 km de
distância, na Baía de Falerom. Um navio achava-se ali ancorado.
Epimênides desceu
agilmente para a terra, em Pireu, seguido de Nícias. Os dois homens
encaminharam-se de imediato para Atenas, recobrando aos poucos a força das
pernas depois da longa viagem por mar, desde Creta. Ao entrarem na já
mundialmente famosa “cidade dos filósofos”, os sinais da praga eram vistos por
toda a parte. Mas Epimênides observou outra coisa:
“Nunca vi
tantos deuses!” exclamou o cretense para o seu guia, piscando surpreso.
Falanges ladeavam
os dois lados da estrada que saía do Pireu. Outros deuses, centenas deles,
adornavam um terreno íngreme e rochoso, chamado acrópole. Tempos depois, nesse
mesmo lugar, os atenienses construíram o Partenon.
“Quantos são os
deuses de Atenas?” inquiriu Epimênides.
“Várias centenas
pelo menos!” replicou Nícias.
“Várias centenas!”,
foi a exclamação espantada de Epimênides.
“Aqui é mais fácil
encontrar deuses do que homens!”
“Tem razão!”, riu o
conselheiro Nícias. “Não sei quantos provérbios já foram feitos sobre ‘Atenas,
a cidade saturada de deuses’. Com a mesma facilidade que se tira uma pedra da
pedreira, outro deus é trazido para a cidade!”1
Nícias parou
repentinamente, refletindo sobre o que acabara de dizer. “Todavia”, começou pensativo,
“o oráculo de Pítias declara que os atenienses precisam apaziguar ainda um
outro deus. E você, Epimênides, deve promover a intercessão necessária.
Ao que parece, apesar do que eu disse, nós, atenienses, ainda precisamos de
mais um deus!”
Jogando a cabeça
para trás e rindo, Nícias exclamou: “Realmente, Epimênides, não consigo
adivinhar quem poderia ser esse outro deus. Os atenienses são os maiores
colecionadores de deuses no mundo! Já saqueamos as teologias de muitos povos
das vizinhanças, apoderando-nos de toda divindade que possamos transportar para
a nossa cidade, por terra ou por mar.”
“Talvez seja esse o seu problema”, disse Epimênides com um ar misterioso.
Nícias piscou os
olhos para o amigo, sem compreender, como quem deseja um esclarecimento desse
último comentário. Mas alguma coisa na atitude de Epimênides o silenciou.
Momentos depois, chegaram a um pórtico com piso de mármore, junto à câmara do
conselho na Colina de Marte. Os anciãos de Atenas já haviam sido avisados e o
conselho os esperava.
"Epimênides,
agradecemos sua ... " começou o presidente da assembléia.
"Sábios
anciãos de Atenas, não há necessidade de agradecimentos." Epimênides
interrompeu. "Amanhã, ao nascer do sol, tragam um rebanho de ovelhas, um
grupo de pedreiros e uma grande quantidade de pedras e argamassa até a ladeira
coberta de relva, ao pé desta rocha sagrada. As ovelhas devem ser todas sadias
e de cores diferentes - algumas brancas, outras pretas. Vocês não devem
deixá-las comer depois do descanso noturno. É preciso que sejam
ovelhas famintas! Vou agora descansar da viagem. Acordem-me ao amanhecer."
Os membros do
conselho trocaram olhares curiosos, enquanto Epimênides cruzava o pórtico em
direção a um quarto sossegado, enrolando-se em seu manto como num cobertor e
sentando-se para meditar.
O presidente
voltou-se para um dos membros jovens do conselho'. "Veja que tudo seja
feito como ele ordenou", disse ele.
"As ovelhas
estão aqui", falou o membro jovem, humildemente.
Epimênides,
despenteado e ainda meio dormindo, saiu de seu descanso e seguiu o mensageiro
até a ladeira que ficava na base da Colina de Marte. Dois rebanhos - um de
ovelhas pretas e brancas e outro de conselheiros, pastores e pedreiros -
achavam-se à espera, debaixo do sol que nascia. Centenas de
cidadãos, desfigurados por outra noite de vigília cuidando dos doentes
atingidos pela praga e chorando pelos mortos, galgaram os pequenos outeiros e
ficaram observando ansiosos.
"Sábios
anciãos", começou Epimênides, "vocês já se esforçaram muito ofertando
sacrifícios aos seus numerosos deuses; entretanto, tudo se mostrou inútil. Vou
agora oferecer sacrifícios baseado em três suposições bem diferentes das suas.
Minha primeira suposição ...”
Todos os olhos estavam fixos no cretense de elevada estatura; todos os ouvidos atentos para captar suas
próximas palavras.
" ... é que existe ainda outro deus interessado na questão
desta praga - um deus cujo nome não conhecemos e que não está, portanto, sendo
representado por qualquer ídolo em sua cidade. Segundo, vou supor também que
este deus é bastante poderoso - e suficientemente bondoso para fazer alguma
coisa a respeito da praga, se apenas pedirmos a sua ajuda."
"Invocar um
deus cujo nome é desconhecido?" exclamou um dos anciãos.
"Isso é possível?"
"A terceira
suposição é a minha resposta à sua pergunta", replicou Epimênides.
"Essa hipótese é muito simples. Qualquer deus suficientemente grande e
bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso
para nos favorecer em nossa ignorância - sereconhecermos a mesma e o invocarmos!"
Murmúrios de aprovação misturaram-se com o balido das ovelhas famintas. Os anciãos de Atenas jamais tinham ouvido essa linha
de raciocínio antes. Mas, por que, perguntavam eles, as ovelhas
deviam ser de cores diferentes?
"Agora'"
gritou Epimênides, "preparem-se para soltar as ovelhas na ladeira sagrada! Uma vezsoltas, deixem que cada animal paste onde
quiser, mas façam com que seja seguido por um homem que o observe cuidadosamente." A seguir, levantando os olhos para o
céu, Epimênides orou com voz profunda e cheia de confiança: "ó, tu, deus desconhecido! Contempla a praga que aflige esta cidade! E se de
fato tens compaixão para perdoar-nos e ajudar-nos, observa este rebanho de ovelhas! Revela tua disposição para responder, eu peço,
fazendo com que qualquerovelha que te agrade deite
na relva em vez de pastar. Escolha as brancas se elas te agradarem;
as pretas se te causarem prazer. As que escolheres serão sacrificadas a ti -
reconhecendo nossa lamentável ignorância do teu nome!"
Epimênides
sentou-se na grama, inclinou a cabeça e fez sinal aos pastores que guardavam o rebanho. Estes vagarosamente se afastaram. Com rapidez e voracidade, as ovelhas
se espalharam pela colina, começando a pastar. Epimênides ficou ali sentado como uma estátua, com os olhos baixos.
"É
inútil", murmurou baixinho um conselheiro. "Mal amanheceu e raras vezes vi um rebanho tão faminto. Nenhum animal vai deitar-se antes de
encher o estômago e quem acreditará então que foi um deus que o levou a isso?"
Epimênides deve ter escolhido esta hora do dia deliberadamente!" respondeu Nícias.
"Só assim poderemos saber que a ovelha que se deitar o fará em obediência
à vontade desse deus desconhecido, e não por sua própria inclinação!"
Mal Nícias
terminara de falar quando um pastor gritou: "Olhem!"
Todos os olhos se voltaram para ver um carneiro dobrar os joelhos e deitar-se na relva.
"Eis aqui
outro!" bradou um conselheiro surpreso, fora de si por causa do espanto.
Em poucos minutos algumas das ovelhas se achavam acomodadas sobre a relva
suculenta demais para que qualquer herbívoro faminto pudesse resistir - em
circunstâncias normais!
"Se apenas uma
deitasse, teríamos dito que estava doente!" exclamou o presidente do
conselho. "Mas isto! Isto só pode ser uma resposta'"
Com os olhos cheios
de reverência, ele se voltou, dizendo a Epimênides: "O que faremos
agora?"
"Separem as
ovelhas que estão descansando", replicou o cretense, levantando a cabeça
pela primeira vez desde que invocara o deus desconhecido, "e marquem o
lugar onde cada uma se acha. Façam depois com que os pedreiros levantem
altares - um altar em cada ponto onde as ovelhas descansaram!"
Pedreiros
entusiastas começaram a fazer argamassa e no final da tarde ela já havia
endurecido o suficiente. Todos os altares se achavam preparados para uso.
"Qual o nome
do deus que gravaremos sobre esses altares?" perguntou um dos conselheiros
do grupo mais jovem, excessivamente ansioso. Todos se voltaram para ouvir a
resposta do cretense.
"Nome?"
repetiu Epimênides, como se refletindo. "A divindade, cuja ajuda buscamos,
agradou-se em responder à nossa admissão de ignorância. Se agora
pretendermos mostrar conhecimento, gravando um nome quando na verdade não temos
a menor idéia a respeito dele, temo que vamos apenas ofendê-la!".
"Não podemos
correr esse risco", concordou o presidente do conselho. "Mas com
certeza devehaver um meio apropriado
de - de dedicar cada altar antes de usá-lo."
"Tem razão,
sábio conselheiro", declarou Epimênides com um sorriso raro. "Existe
um meio.Inscrevam simplesmente as
palavras agnosto theo - a um deus
desconhecido - no lado de cada altar. Nada mais é necessário."
Os atenienses gravaram as palavras recomendadas pelo conselheiro cretense. A seguir,
sacrificaram cada ovelha "dedicada" sobre o altar marcando o ponto em
que a mesma havia
deitado. A noite caiu. Na madrugada do dia seguinte os dedos mortais da praga
sobre a cidade já se haviam afrouxado. No decorrer de uma semana, os
doentes sararam. Atenas encheu-se de louvor ao "Deus desconhecido" de
Epimênides e também a este, por ter prestado socorro tão surpreendente de um
modo verdadeiramente engenhoso. Cidadãos agradecidos colocaram festões de
flores ao redor do grupo despretensioso de altares na encosta da Colina de
Marte. Mais tarde, eles esculpiram uma estátua de Epimênides sentado é a colocaram diante
de um de seus templos.
Com o correr do
tempo, porém, o povo de Atenas começou a esquecer-se da misericórdia que o
"deus desconhecido" de Epimênides lhes concedera. Seus altares na
colina foram negligenciados e eles voltaram a adorar centenas de deuses que se
mostraram incapazes de remover a maldição da cidade. Vândalos demoliram parte
dos altares e removeram pedras de outros. O mato e o musgo começaram a crescer
sobre as ruínas até que ...
Certo dia, dois
anciãos que se lembravam da importância dos altares pararam diante deles a
caminho do conselho. Apoiados em seus bordões eles contemplaram pensativos as
relíquias ocultas por trepadeiras. Um dos anciãos retirou um pouco do musgo e
leu a antiga inscrição encoberta por ele: " 'Agnosto theo'. Demas - você
se lembra?"
"Como poderia
esquecer?" respondeu Demas. "Eu era o membro jovem do conselho que
ficou acordado a noite inteira para certificar-me de que o rebanho, as pedras,
a argamassa e os pedreiros estariam prontos ao nascer do sol!"
"E eu",
replicou o outro ancião, "era aquele outro membro jovem e ansioso que
sugeriu que fosse gravado em cada altar o nome de algum deus! Que tolice".
Ele fez uma pausa,
mergulhado em seus pensamentos, acrescentando a seguir: "Demas, você
talvez me considere sacrílego, mas não posso deixar de sentir que se o
"Deus desconhecido" de Epimênides se revelasse abertamente a nós,
logo deixaríamos de lado todos os outros!" O ancião barbudo balançou o
bordão com certo desprezo na direção dos ídolos surdos e mudos que, em fileira
após fileira, cobriam a crista da acrópole, em número maior do que nunca antes.
"Se Ele jamais
vier a revelar-se", disse Demas pensativamente, "como nosso povo
saberá que não é um estranho, mas um Deus que já participou dos problemas de
nossa cidade?"
"Acho que só
existe um meio", replicou o primeiro ancião. "Devemos preservar pelo
menos um desses altares como evidência para a posteridade. E a história de
Epimênides deve, de alguma forma, ser mantida viva entre as nossas
tradições."
"Uma grande
idéia a sua!" entusiasmou-se Demas. "Olhe! Este ainda está em boas
condições. Vamos empregar pedreiros para pô-lo e amanhã lembraremos todo o
conselho dessa antiga vitória sobre a praga. Faremos passar uma moção para
incluir a manutenção de pelo menos este altar entre as despesas perpétuas de
nossa cidade!"
Os dois anciãos
apertaram-se as mãos para fechar o acordo e, de braços dados, seguiram caminho
abaixo, batendo alegremente os bordões contra as pedras da Colina de Marte.
Bento Souto